EXÚ: O GRANDE ARCANO NA UMBANDA

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Exú foi e ainda tem sido o grande mistério e talvez a maior contestação de todos os tempos na nossa Umbanda Sagrada. Durante muitos anos, Exú foi comparado à figura do diabo e mistificado através das imagens de barro como possuidor de características perispirituais com rabos, chifres e pés-de-cabra. Mas porque uma entidade tão cultuada na Umbanda – e talvez a mais semelhante a nós homens encarnados pelas suas emoções e sentimentos – se apresentaria de forma tão monstruosa? Por que espíritos errantes como nós e comprometidos com a evolução moral e intelectual das suas próprias almas estariam tão subjugados a estes tipos de comparação?

Exú sempre fora visto como o filho rebelde de Yemanjá, já que, de acordo com a lenda, quando desejou povoar a Terra, Oxalá mandou que Exú viesse com essa missão. Desrespeitando a ordem do grande Pai, ele veio para a Terra, porém, em vez de povoar, Exú se rebela e começa a devorar tudo que já existia no planeta, só sendo contido quando seu irmão Ogum, com a primeira espada dada por Oxalá, consegue detê-lo. Essa seria talvez a primeira comparação feita com a imagem de Exú análoga à figura do demônio.

Na época da colonização brasileira, os cultos africanos se apresentavam como as práticas mais oponentes às crenças europeias, sendo tachados como feitiçaria pelos brancos. A solução encontrada por seus seguidores para amenizar a perseguição foi o sincretismo religioso, atribuindo a cada Orixá2 um santo da igreja católica. O culto africano aos “Deuses da Natureza” foi denegrido, então, e associado à adoração do submundo, restando para nossos irmãos Exús mais uma vez o trono do dono das trevas.

Em outro tempo, a Umbanda foi comparada com o Espiritismo codificado por Allan Kardec devido ao fato de alguns mentores espirituais de casas kardecistas se apresentarem como índios (Caboclos) e vovôs (Pretos-Velhos); ou, ainda, pela presença dos sentinelas nos centros, que nada mais são do que os Exús Guardiões com nomes diferentes. Isto só vem reforçar que os planos que trabalham nas duas linhas não se diferem tanto assim no mundo espiritual. A contestação é que a mediunidade explorada pelos Kardecistas utiliza muito mais o campo mental de seus médiuns. Já a Umbanda, por lidar diretamente com as energias da Terra (que são os Orixás), utiliza também muito o físico de seus médiuns. Aí está a grande diferença de “voltagem” entre Kardecismo e Umbandismo; (120 Volts / 220 Volts - as duas energias desempenham muito bem seu papel, mas cada qual com seu fundamento). Com isso, a Umbanda ganha o título de atrasada, pelos leigos, por entrar em sintonia com aquilo que vivemos na matéria e utilizar instrumentais da natureza – como o fumo de folhas secas, o éter e o fogo – para reaproximar o homem de suas raízes e aproximá-lo do habitat natural dos Orixás, onde espíritos encarregados trabalham pela ordem no plano espiritual e físico, atribuindo a Exú o título de atrasado e não de “organizador”.

Além disso, Exú com suas gargalhadas e com suas falanges de charuto e copo na mão, mais uma vez é apontado como ser das trevas que vem na Terra pelas vicissitudes de outrora, de suas reencarnações passadas, para comer, beber e fumar, e não pela oportunidade de ajudar, prestar a caridade ou combater o mal. Os Exús querem, perante a justiça Divina, a conveniência de recuperar suas faltas do passado no caminho da senda da evolução divina como filho de DEUS. 

Essas entidades fazem dentro da Umbanda o trabalho mais árduo, já que são os guardiões dos templos e os “policiais” do umbral. São eles que fazem a negociação na porta do astral inferior para os outros planos superiores e para a Terra – quem vai e quem fica. Nenhum irmão entra ou sai do umbral sem passar pela ordem do Sr. Exú. E ai de quem desobedecer a esse irmão que não conhece e não admite a impunidade, pois experimentou “na própria pele” a força da lei que não castiga, mas que, se não consegue combater o erro pelo amor, deixa que os homens experimentem a dor para deter seus próprios impulsos na vereda do caminho do mal. 

Exú pode utilizar formas perispirituais mais pesadas no astral para acovardar os maus e fazer respeitar-se pelos rebelados, que não conseguem ver e nem conhecem a figura angelical de bons espíritos. O mesmo podemos compreender a respeito de armas como o tridente, usado para repreender seus fugitivos, que, na concepção Umbandista, não é o garfo do diabo, e sim o homem de braços abertos adorando o Céu, ou ainda os três ou sete caminhos da evolução. De novo, então, Exú é comparado ao espírito soturno por vir à crosta terrestre levando esses irmãos rebelados às reuniões espíritas de desobsessão, sendo por isso confundido com falangeiros do mal: por se mostrar aos médiuns clarividentes com uma forma perispiritual desagradável.

Talvez ainda seja um pouco cedo para que a nossa consciência limitada e imperfeita conheça verdadeiramente os fundamentos espirituais e o que representam os Exús. O que hoje tentamos, como Umbandistas conscientes, é salvar a nossa crença não com justificativas aleatórias, e sim de acordo com os fundamentos embasados nos estudos espirituais e nas orientações dos nossos irmãos da Luz. Eles deixam claro que o mais importante é o comprometimento dos seres com as Leis Divinas e não será aparência que têm. Não confundamos, assim, ou comparemos os Exús com os Kiumbas da Quimbanda3, que fazem o mal ao próximo por alguma recompensa se valendo, por vezes, dos nomes de nossos irmãos Exús. Irmãos encarnados com personalidades maldosas atraem os espíritos maus, enquanto os filhos engajados no bem atraem espíritos benfeitores. Portanto, procuremos distingui-los pelas suas atitudes e não por seus nomes ou aparências. O que não podemos admitir é que Exú ainda continue sendo visto como o mal, já que diversas vezes esse irmão mostrou-se o contrário nos verdadeiros Templos Umbandistas em busca do amor ao próximo e prestando a caridade.

Exú é hoje muito mais respeitado do que ontem e amanhã será muito mais. Tudo em DEUS é evolução e progresso constante, para quem quer realmente desfrutar da verdadeira vida prometida há mais de 2000 anos por Jesus. Exú, como nós, já deixou o pretérito a fim de viver o futuro e não ser mais visto como o ser antagônico ao Criador.

COBALAROIÊ EXÚ MOJUBÁ! LAROIÊ EXÚ! 

Glauco Grosso Moraes

Médium há 17 anos no TEMPLO UMBANDISTA LUZ DO ORIENTE

Juiz de Fora – MG

 

NOTA GERAL: Todas as informações e reflexões constantes neste texto devem ser compreendidas também em relação às Pombagiras, que são o Exus femininos.

1 Arcano: que ou o que é profundamente secreto, misterioso, enigmático. 

2 Energias da Natureza; Tronos Divinos de Deus que regem a Natureza.

3 Espíritos das trevas.