FALANGE DOS ERÊS
Médium Gabriela QueirogaNo triângulo espiritual da Umbanda, os erês representam o início da caminhada do homem na Terra (infância), sendo precedida pelos caboclos (fase adulta) e pretos-velhos (fase idosa). Dotadas dessa qualidade, elas facilmente despertam nossas lembranças infantis positivas, que reafirmam a nossa capacidade de sermos felizes, mais corajosos, persistentes e esperançosos, fortalecendo nossa fé em Deus e na vida.
Não nos restam dúvidas quanto à importância de todas as entidades nos trabalhos de Umbanda, especialmente das crianças espirituais (também conhecidas como erês, ibejis, dois-dois), haja vista as muitas histórias conhecidas sobre as curas, tratamentos e limpezas que esses seres espirituais de luz são capazes de promover. Mas por que se apresentarem nessa roupagem? Por que, então, um dos pilares da Umbanda ser constituído por crianças, que possuem aparentemente a imagem de seres vulneráveis e indefesos?
O Mestre Jesus, em sua sabedoria suprema e compreendendo a importância das crianças no mundo, nos disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o Reino dos Céus é para os que lhes assemelham.” (Marcos, 10:14).
Jesus propôs, assim, a busca pela simplicidade e pela pureza de coração utilizando como modelo as crianças, que são a representação mais verdadeira do amor puro à criação divina, em todas as suas formas. Sendo assim, as crianças espirituais, regidas pelo orixá Yori, aproveitam de sua manifestação infantil para estimularem a busca pelo amor, fraternidade, simplicidade, beleza interior e pureza de nossos sentimentos, pensamentos e atitudes.
Os erês são grandes conhecedores de magia e manipulam energias com muita facilidade. Mostram-se numa vestimenta infantil, com trejeitos e falas próprios de seres de tenra idade, mas estão longe de serem indefesos ou inofensivos. Tal como uma criança encarnada, pode ser um espírito muito antigo, que possui inúmeras vivências, os trabalhadores das falanges de Yori são muito sábios, experientes e capazes de fazer e desfazer qualquer trabalho magístico.
O orixá Yori foi sincretizado com São Cosme, São Damião e Doum. Um dos motivos desta relação está no fato de, quando em vida, eles haverem trabalhado com a cura do corpo e da alma, sem esperarem recompensas materiais. Além disso, contam-se lendas em que esses santos distribuíam doces às crianças de sua época. Por esse motivo, dia 27 de setembro é celebrado o dia dos Santos Cosme e Damião e, na Umbanda, o dia de Yori, bem como dos erês.
Muitas pessoas ainda não compreendem o trabalho dessas entidades e acabam por não dar o devido valor e respeito que elas merecem. Procuremos estudar nossa querida Umbanda e esclarecer nossas dúvidas sobre a falange das crianças, pois atrás de uma imagem infantil e simples, há um espírito de muita luz disposto a nos ajudar.