Cambono, um aprendizado de doação e amor
Médium Luiza HelenaEm nossa casa, muito já se falou sobre o conceito, as funções e a importância do trabalho de um cambono na Umbanda. Mas será que realmente conseguimos assimilar o que é ser um cambono?
Em razão disso, meu propósito aqui será um pouco diferente: gostaria de trazer outra visão sobre o que é ser verdadeiramente um cambono na Umbanda. Não pretendo, de forma alguma, desmerecer as atribuições práticas que devem, sim, ser exercidas pelo cambono (e, na verdade, por todos os médiuns durante uma gira). O que intento é mostrar que o ato de cambonar vai bem além e exige do médium HUMILDADE, CUIDADO, CARINHO e AMOR.
HUMILDADE, porque precisamos nos libertar da vaidade do pensamento de que o trabalho espiritual pede uma incorporação. Engana-se aquele que está ao lado de uma entidade, pensando que ajuda apenas com praticidades: acendendo um fumo; segurando um alguidar; organizando o atendimento. Em cada instante que estamos ali, do lado dos guias, nossa energia é aproveitada, doamos fluidos e vibrações, auxiliamos diretamente no tratamento dos encarnados e desencarnados e também somos tratados.
Nessa linha, foi o ensinamento do nosso Pai João das Matas, quando o questionei sobre o que, para ele, é um cambono: “Fia, não existe trabalho espiritual sem cambono, muitas vezes nós acá usamos, no tratamento do consulente, a energia dele e não a do cavalo”. Pai Maneco de Aruanda confirmou essa mensagem, dizendo, em meio a um doce sorriso: “Fia, sem cambono não há Umbanda!”
Alguma vez, já se perguntaram quanto CUIDADO deve ter um cambono? Cuidado não somente no sentido de estar atento a tudo que se passa ao redor; mas, principalmente, de zelo... Preparar-se para o trabalho; organizar cada item que o guia irá usar e se antecipar a cada pedido dele; estudar sobre os materiais utilizados e os trabalhos realizados pela espiritualidade; conhecer cada entidade que atua por aquele médium, se afinizar com elas e, por que não dizer, com o cavalo dela também? Pois a proximidade respeitosa com o médium que auxilia trará confiança mútua e maior tranquilidade no momento do atendimento.
E isso parece não ser novidade no mundo espiritual; pois, fazendo a mesma pergunta ao Sr. Exu Meia Noite, ele definiu cambono com uma única palavra: lealdade. E, logo depois, explicou que “o cambono é o braço direito; é aquele que segue, confia e acredita no trabalho do médium”.
Por fim, o primordial e que não deveria faltar a nenhum de nós: AMOR e CARINHO! O que seria da Umbanda e da vida sem isso? O amor e o carinho que um cambono deve ter pela sua Casa, seu trabalho, entidades e médium que auxilia nada mais é do que um “retorno” pequeno em face do muito que nos é dado em troca todos os dias, enquanto servimos. Nada mais é do que gratidão por cada palavra de consolo, sorriso, olhar, abraço, lágrimas e colo que recebemos dos nossos queridos vovôs; nada mais é do que um "Muito Obrigado" por toda proteção que recebemos dos Exús, Pomba-giras e pelas orientações e ensinamentos dos Caboclos; nada mais é do que o menor dos retornos pela energização e prosperidade trazidas para nossas vidas pelos Ciganos; nada mais é do que um pouco do nosso axé em troca de toda a alegria de viver ensinada pelos arretados Baianos.
Enfim, amor e carinho são, na mesma medida, os maiores ensinamentos que cada cambono deve assimilar e as maiores funções que, como médiuns que somos, devemos exercer! Afinal, o que é feito com coração, pura e verdadeiramente, é a mais bela de todas as doações e o real sentido de CARIDADE!
Por todas essas lições, agradeço à espiritualidade por ter me direcionado à minha casa espiritual, Ação Cristã Vovô Elvírio; aos meus estimados pais de santo pela oportunidade contínua de aprendizado e à minha amada madrinha.
SALVE A UMBANDA!