RECEITA DE DESOBSESSÃO

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“O espírito que está obsediando alguém ou causando transtorno em um lar precisa ser afastado”

Como é triste constatar que esta é, muitas vezes, a crença de muitos trabalhadores de centros e terreiros, não porque seja de todo errada – mas ela é, com certeza, incompleta.

Todo processo de obsessão é uma VIA DE MÃO DUPLA. A ninguém cabe julgar quem é culpado e quem é vítima; nossa função não é avaliar os casos de obsessão ou atuar como juízes. A verdade é que espíritos bons e maus ligam-se a nós por afinidade – quando compartilhamos os mesmos sentimentos, os mesmos interesses, as mesmas ambições. A isso se dá o nome de sintonia espiritual. Há, ainda, casos de obsessão que têm causa em relações de vidas passadas, quando erramos e magoamos parentes, amigos ou desafetos de tal forma que o vínculo de dor e sofrimento, de falta de perdão e necessidade de reparação, se mantém nas encarnações seguintes. 

O trabalho que almeja o “afastamento” do espírito perturbador deve levar em conta essas questões. Na Umbanda, chamamos esse tratamento de puxada. Compreendemos que a puxada seja um afastamento rápido e, por vezes, temporário dos espíritos que estão ligados a nós por meio de nossas imperfeições e tendências. Perguntamos-nos, então: qual a eficácia de afastar os obsessores espirituais se o próprio encarnado não mantiver uma condição mínima de equilíbrio para que este afastamento seja permanente? Em alguns casos, logo após receber intenso tratamento desobsessivo, o indivíduo começa a atrair de volta para si os espíritos ou as energias das quais acabou de ser liberto. 

Desse modo, a puxada em si não é uma desobsessão, é apenas parte do tratamento. Afinal, o espírito que hoje obseda ontem pode ter sido vítima, bem como aquele que sofre a obsessão pode ter sigo um algoz cruel. Não há injustiça na conduta divina, portanto, não há sofredor que não tenha a quem pagar. Essa realidade nos coloca bem no centro dos nossos problemas, com a inteira responsabilidade pela nossa condição espiritual. A única verdadeira desobsessão ocorre de dentro para fora, ou seja, quando nos abrimos para reconhecer nossas imperfeições, quando perdoamos e pedimos perdão, quando abandonamos a postura de vítima e nos dispomos a mudar. Desse modo, seria estranho pensar que em alguns minutos durante uma puxada isso vá se realizar por completo. 

É verdade que, algumas vezes, o consulente já alcançou o merecimento pessoal diante das leis divinas para se ver livre das amarras obsessivas. Nestes casos, realmente uma puxada pode ser o suficiente para que o encarnado siga seu caminho com liberdade, autonomia e mais saúde. Entretanto, vale lembrar que conquistar merecimento é justamente abrir-se para o autoconhecimento, reformar os padrões de pensamento e comportamento, enfim, ter realizado suficientemente a tão conhecida reforma íntima.

Não há como “afastar os maus espíritos” se continuarmos a alimentar os sentimentos inferiores que os atraíram, em primeiro lugar. Não há mágica nessas relações. Se, de um lado, os Espíritos precisam ser tratados, doutrinados e encaminhados na espiritualidade, do outro, os encarnados precisam também se evangelizar, para compreender sua parcela de responsabilidade por todo o mal que atraem para si mesmos. Ninguém se engane: o obsedado só se libertará quando ele mesmo se dispuser a promover a sua autodesobsessão. As entidades não poderão fazer por ele o que ele não fizer por si mesmo. Muito menos os médiuns, ou alguém que lhe queria operar a cura.

Sabemos que existem obsessões incuráveis na presente encarnação. Que determinados casos de subjugação e de possessão não serão solucionados agora. São aqueles que exigem tratamento a longo prazo - o lento, mas belo processo de redenção da alma que se esforça por sua transformação; que luta consigo mesma para superar o passado tiranizante. É uma batalha prolongada. O Culto do Evangelho no Lar, a leitura diária do Evangelho e o hábito da oração são bons antídotos contra as obsessões, mas só terão validade quando conseguirmos transformar ideias em realizações, quando passamos a agir de modo a merecermos a libertação.