A CAPOEIRA, SUAS FASES E SUA CONEXÃO COM A ESPIRITUALIDADE (parte II)
Médium André EvangelistaSegundo Momento - A Capoeira Marginalizada
Após serem libertos, os até então “escravos” tornaram-se homens livres, porém sem posses, sem lugar para morar, sem comida, sem nada... Escravos livres, sem condições de sobrevivência, logo buscaram de volta seus antigos “donos”, outros, por sua vez, se entregaram à malandragem. Os guetos surgiram, grandes comunidades em todo o Brasil (hoje chamamos de favela).
Inclusive, é incorreto afirmar que a capoeira é apenas baiana. A capoeira teve sua formação nas capitanias, o que engloba Pernambuco, Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro. Sua maior força e presença (refiro-me à capoeira luta) vinha dos quilombos, formados por negros fugitivos que criaram essas comunidades rebeldes, para lutar contra a escravidão.
Alguns negros tinham ofícios que os fizeram seguir um caminho de sobrevivência digno (artesãos, plantadores, quitandeiras, dentre outras inúmeras atividades). Porém, também havia aqueles que eram marginais, capoeiristas brigões, não dedicados a uma atividade (trabalho). E isso fez com que o “malandro” surgisse.
Homem da noite, o camarada que não trabalhava, mas, de alguma maneira, vivia uma vida boêmia, bebedor, namorador, briguento, que não respeitava nenhum tipo de lei. Esse acabou se tornando um homem hostil, se valendo de sua força, para “crescer em cima” dos mais fracos. Levava uma vida repleta de situações que geraram muitas “dívidas” espirituais, impurezas que o fizeram endividar-se perante as leis divinas.
Após o desencarne e diante de novos aprendizados conquistados, alguns desses denominados “malandros”, passaram a integrar falanges espirituais como a de “Zé Pilintra”. Entidades dessas falanges se apresentam em vários terreiros de umbanda como “capoeiristas e sambistas malandros”. É importante deixar claro que isso não é uma regra.
Não é correto afirmar que o “capoeirista malandro” atua somente em uma linha de trabalho como a de esquerda, por exemplo.
Fato é que muitos espíritos que viveram nesse período da capoeira marginal passaram a atuar na linha de esquerda, submetidos a essa força, como ferramenta adequada para executar o resgate necessário.
É importante ressaltar a questão do médium que é escolhido por essas entidades, para que também resgate os próprios débitos, trabalhando por meio de sua mediunidade, transmitindo mensagens e realizando trabalhos direcionados à quebra de demandas, à luta contra as forças de espíritos atrasados.
Terceiro e atual Momento – Capoeira contemporânea
Hoje, a capoeira apresenta-se como esporte, uma prática de resgate físico, um caminho para o indivíduo desenvolver uma vida saudável, desenvolver habilidades tanto artísticas quanto culturais. A música, os movimentos, a magia da prática da capoeira tornou-se algo totalmente diferente dos dois momentos anteriores. No primeiro, era utilizada como instrumento de guerra. No segundo, como instrumento de abordagem e comportamento negativo – malandro brigador de rua.
A energia que a capoeira hoje utiliza é muito mais voltada para um ideal de busca da pureza, de luz.
Dois dos mestres de capoeira que se valeram dessa “energia educativa” foram: Mestre Pastinha, conhecido como o maior mestre da capoeira angola, criador da primeira academia de capoeira, e Mestre Bimba, criador da capoeira regional. Esse último promoveu um grande feito: em 1937, conseguiu, junto ao presidente da República, na época, Getúlio Vargas, o reconhecimento da capoeira como patrimônio nacional cultural. A capoeira, então, deixou de ser considerada crime de contravenção no código penal daquele tempo.
Dentre muitas outras situações, a capoeira, ao longo do tempo, sempre se “movimentou”, constituindo um instrumento de condução de várias mensagens para nós.
A capoeira proporciona conexão espiritual. Ela é mística, forte, ligeira, excelente prática para quem deseja crescer, aprender a vencer limites e evidenciar virtudes. Porém, perigosa caso seja utilizada negativamente. Assim como tudo na vida, quando utilizado de forma errada. Bem conduzida, torna-se uma das mais belas filosofias de vida!
Salve a capoeira, salve sua força, salve a força de todos os orixás, pois ela usa exatamente isso: a força de todos os orixás.