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TEM MÉDIUM NOVO NA CORRENTE

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Vemos todos os sábados nossa casa cheia de consulentes em busca de auxílio para problemas do corpo e/ou da alma. Muitos chegam trazidos por alguém da família, algum amigo ou por indicação de alguém. E cheios de esperança, assistem da consulência com um misto de fascínio e receio tudo o que se passa no Congá, nas Firmezas e na Tronqueira. E, assim, voltam, sábado após sábado, até finalmente entrarem para a corrente, iniciando desta forma no trabalho do bem e da caridade no nosso Terreiro. Antes de subir ao Congá pela primeira vez, o Médium iniciante recebe as orientações e apostila contendo informações e normas da Casa. E, mesmo tendo esperado tanto por esse momento, a hora de subir no Congá – esse lugar que antes fora tão fascinante - agora lhe parece amedrontador. O coração a sair pela boca e o receio de fazer ou falar alguma coisa que não deve.

E assim começa a saga dos médiuns novos no Terreiro. Ele entra tímido, sente-se deslocado e algumas vezes até envergonhado, achando que todas as pessoas do terreiro o estão observando. Os trabalhos começam e ele não sabe bem como se portar, mas a batida dos atabaques o leva para algum lugar que lhe parece familiar. Quer perguntar alguma coisa para o Irmão ao lado, mas e “se ele achar que eu não sei de nada, e se ele não gostar de mim, e se...” São tantas as dúvidas e tão grande a vergonha, que ele prefere ficar quietinho, observar e fazer o que todos estão fazendo, mesmo que naquele momento aquilo não lhe faça sentido algum. E nós, médiuns mais antigos de casa – e isso não quer dizer melhores -, como humanos que somos muitas vezes até reparamos no seu deslocamento, na incorporação muitas vezes sem tanto controle do novato, afinal ainda não é um cavalo domado. Chegamos a nos impacientar com alguma atitude dele e até nos afastamos para que não pensem que compartilhamos daquilo. Em outras palavras, deixamos o Irmão recém-chegado à mercê da própria sorte.

Certa vez, ouvi um médium falar para outro que ali no terreiro você aprende a ser rejeitado. Como assim? Não somos todos Irmãos com um mesmo propósito? Trabalhamos na seara da caridade, segundo os ensinamentos do nosso Grande Mestre? É uma grande falha nossa, que já estamos na casa há mais tempo deixarmos que um Irmão de Fé se sinta dessa forma excluído. Devemos, por tudo o que aprendemos e pelo que trabalhamos, acolher sem julgar, ajudar sem menosprezar, ter caridade com o próximo tão próximo. Fazer o bem sem olhar a quem. Claro, às vezes, no calor do trabalho, não temos como dar um suporte àquele que está ao nosso lado, num momento de distração você simplesmente passa despercebido por alguém, mas nada justifica deixarmos alguém desamparado, sem o mínimo de suporte e calor humano ao longo do tempo. Todos temos aqueles aos quais nos simpatizamos e nos afinizamos mais. Têm aqueles Irmãos que são mais sérios, tímidos que os outros e não têm tanta facilidade de socialização. Tudo isso é normal. Mas é injustificável que alguém ao nosso lado se sinta invisível e abandonado de tal maneira que ache “normal” aprender a ser rejeitado!

Precisamos nos lembrar de que se hoje nós somos médiuns “antigos”, e eu tenho apenas pouco mais de um ano de casa, um dia também fomos novatos. Um dia também estivemos pela primeira vez no Congá, com nossas incertezas e nossas inseguranças, e certamente algum Irmão nos estendeu a mão. Mais do que nunca, a frase “Viver para Aprender, Aprender para viver” deve estar presente em nossas vidas, no nosso dia a dia. Aprender a tratar a todos como irmãos e semelhantes, e viver para fazer isso todos os dias, inclusive dentro do nosso próprio Terreiro.