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Alguns filmes nacionais tentaram retratar o que seria o purgatório. Em um dos trechos do filme O Auto da Compadecida (Guel Arraes), o personagem João Grilo sugere a Jesus que quatro de seus conhecidos fossem encaminhados a essa zona para que escapassem do inferno.  Em Nosso Lar (Wagner de Assis), obra cinematográfica inspirada no livro de mesmo nome, de autoria de Chico Xavier, o Umbral é descrito na fala de Lísias como uma zona de diversas perturbações e sofrimento, onde se esgota todo tipo de resíduo emocional ou material que não possui utilidade após o desencarne. Diante disso, o que é o Umbral ou o dito purgatório, afinal?

Discutiremos aqui uma concepção de Umbral voltada para a fé umbandista que, de fato, guarda grande consonância com o conceito espírita apresentado no livro de Chico Xavier. Trata-se de uma região bem próxima ao nosso mundo natural, dos encarnados, em que se situam todos os tipos de cargas negativas que o espírito carrega em razão das atitudes que teve como encarnado. 

Diferentemente do que ocorre no mundo natural, onde precisamos exteriorizar nossos pensamentos; no plano espiritual, o nosso “pensar” acontece de modo diferente. Após o desenlace do corpo físico, a consciência do desencarnado carrega energias que se aglomeram com outras semelhantes, construindo uma faixa vibratória que atrai o espírito para um local de afinidade do seu pensamento. Uma área, portanto, em que se acumulam várias cargas negativas encontradas nos “monstros” particulares (vícios) que os espíritos alimentaram durante a passagem no mundo físico. 

Como o tipo de consciência varia de espírito para espírito – de acordo com o tipo de vida que levou no mundo físico, bem como as crenças teve – podemos dizer que o Umbral não se limita a um determinado tipo de ambiente. Ele varia em diversas regiões talvez incontáveis, uma vez que são construídas conforme o tipo de faixa energética em que cada espírito vibra. Em determinado ponto, entram em sintonia aqueles que carregam experiências ligadas às guerras e ao ódio, em outro se juntam aqueles que estiveram ligados ao egoísmo, outros ao suicídio. Desse modo, essas edificações encontram-se em constante mutação, nelas a noção de tempo e espaço não é propriamente perceptível.

Além disso, essa região do plano espiritual pode ser descrita como uma terra em que a liberdade individual do espírito é que reina e, dessa forma, a vontade daquele que se encontra no Umbral, que carrega uma consciência baseada nos vícios terrenos, é que prevalece. Ou seja, a decisão de permanecer ou sair de lá cabe somente ao espírito desencarnado, dependendo da sua força de vontade e fé. Utilizando do exemplo de Nosso Lar, André Luiz – o protagonista – somente conseguiu deixar o Umbral após manifestar a fé no Criador, enquanto os demais espíritos que lá se situavam recusaram a ajuda dos espíritos de luz.

Ir para o Umbral é fácil, pois somos espíritos cotidianamente tentados a carregar os vícios do mundo físico. Todavia, a saída dessa região é difícil, posto que o espírito encontra-se inserido em uma faixa vibratória que tende cada vez mais a prendê-lo, restando-lhe somente a persistência da fé. O Umbral, de certa maneira, acaba sendo então uma zona de provação, onde o próprio espírito necessita despertar, deixando os vícios que lhe pertenciam (se eximir dos pecados, como foi dito por João Grilo), para que possam caminhar no mundo superior. Claramente o caminho mais fácil é evitar a própria entrada nessa região, persistindo em uma trilha voltada à prática de caridade, bem ao distanciamento dos vícios que nos aprisionam.