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HUMILDADE: Um exercício essencial para a espiritualidade

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Quando nos propusemos a realizar quaisquer exercícios, ficamos disponíveis ao movimento. Ao mudarmos de lugar, de posição, de condição. Pense em um exercício de matemática. Todo professor da área indica que, quanto maior o número de exercícios, maior a probabilidade de compreendermos o cerne da equação. Assim ocorre com uma corrida. A tendência é que o nosso desempenho melhore caso o treinamento seja constante. Mas o que esses exemplos têm a ver com humildade?

Se a umbanda é movimento, a humildade é um dos exercícios principais que a move. Poderíamos falar da humildade como uma condição, a de que somos humildes. Mas, ao tomarmos o caminho de reconhecer a humildade como um exercício, acabamos por transmutar a condição tão nobre e desafiadora para todos nós em ação permanente e necessária para a umbanda. Ao subirmos no congá, vestirmos branco e firmarmos ponto, nós, médiuns, estamos a serviço do trabalho espiritual e, guiados pela força dos mentores e do dirigente da nossa casa, temos como missão atuar em prol da caridade. Ao pensarmos na condição de ser médium como um status superior, interferimos de modo prejudicial na abertura do nosso canal com os mentores que nos demandam como instrumentos das suas ações caridosas, de cuidado e orientação aos que assim buscam. Portanto, o exercício da humildade é fundamental para o desenvolvimento e sustentação da espiritualidade. 

Dentre tantos, aqui escolhemos quatro grandes pilares que se inter-relacionam e contribuem para entendermos o dinamismo do exercício da nossa humildade: escuta, aprendizado, revisão e desprendimento. Podemos colocar todos esses pilares juntos, formando um caleidoscópio espiritual cujas formas que nos aparecem dependem de como fazemos o movimento para que a nossa espiritualidade se fortaleça. Assim, falando do primeiro grande pilar, a escuta, pense nas perguntas: você consegue ficar em silêncio quando alguém fala com você? Você consegue escutar seu coração? Escutar também demanda maturidade para ouvir aquilo que não gostaria. Quantas vezes precisamos ouvir as orientações do dirigente da casa sobre as regras, a necessidade de termos disciplina, de estudarmos e de olharmos para os erros que cometemos? Recebemos bem as críticas? Para escutar, é necessário praticar humildade para silenciar as nossas ideias e acolher o que realmente precisamos compreender e mudar. 

Nessa linha, escolhemos como segundo pilar o aprendizado. Atividade que nos impulsiona mais fortemente para a transformação, aprender legitima o reconhecimento do que ainda não sabemos, do que temos aprendido errado e de quais são as nossas dificuldades. Talvez esse seja um dos pilares que mais demande o exercício da humildade. Aqui, nos questionamos sobre a produção do sentido do que aprendemos e a sua importância para fazer com que desenvolvamos atos mais humildes. A umbanda exige de nós estudo constante sobre a espiritualidade, os mentores, as ervas, sobre o evangelho e sobre tantos outros elementos ritualísticos. Assim, o aprendizado nutre o umbandista na prática da caridade, porque permite que ele reflita sobre os ensinamentos de Deus e amplie os próprios horizontes de entendimento. Assim, o pilar do aprendizado está diretamente atrelado ao terceiro aqui sugerido, que é o da revisão. Revisar implica pararmos, pensarmos e, por meio daquilo que aprendemos e do que nos chega como crítica e apontamento sobre nós, repensarmos nossos atos. Aqui convidamos você para revisar, por exemplo, por que escolheu a umbanda e o que faz para fortalecer a corrente.

O quarto pilar que sustenta o exercício da humildade é o desprendimento, atrelado à disponibilidade para ser instrumento dos mentores espirituais. Esse último pilar é essencial para evitar quaisquer disputas de vaidade ou de egos sobre quantas entidades nós recebemos, sobre os adereços que usamos, sobre a força e a resolutividade das nossas Pombagiras e exus, ou até mesmo sobre quem somos, como se a energia de um orixá fosse maior do que a de outro. Nada disso nos faz sermos melhores do que os outros. Desprendimento aqui não significa desistência, e sim a prática do desapego para que nós não tomemos as entidades como nossas. Aqui, reconhecemos a nossa disponibilidade para darmos passagem ao trabalho precioso que os pretos-velhos, caboclos e todas as demais entidades fazem de ouvir com amor, atenção, paciência e carinho a dor do outro, procurando, cada um com suas características, dar as orientações, que são verdadeiras mensagens divinas e que servem como condutoras de uma vida mais digna para quem precisa.

Por fim, ao buscarmos de onde se origina a palavra humildade, observamos que vem de húmus, que significa “terra”. A origem deste importante exercício para nós, umbandistas, serve para nos lembrar de que a colheita apenas se concretiza com o plantio. Assim, convidamos você a semear o exercício da humildade, atrelado ao amor, à paciência consigo mesmo e com os outros e à simplicidade, a fim de ir colhendo os bons frutos que nutrem a ação caridosa e a sua evolução espiritual.