QUE VIÉS É ESSE?

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               À qual grupo social você pertence? Qual o seu time de futebol preferido? Qual a sua posição dentro do espectro político brasileiro? É católico? Umbandista? Já sei, ateu. E estudioso? Mais ou menos? Cor? Azul, verde, vermelho? Tudo bem. Agora responda com convicção. Você tem argumentos suficientes para defender as suas ideias e tendências? E, se eu te disser, mesmo sem te ouvir, que grande parte das suas opiniões possuem outras que as contrapõem e possivelmente são melhores do que as suas? Calma. Não franze a testa ainda. Acontece que as melhores ideias e opiniões são as que se transformam e evoluem. Se as suas estão dentro desse contexto, então você está no caminho certo para ter bons argumentos.

                Daqui em diante, você vai entender que eu não estou me referindo a mudanças levianas de opinião. Estamos falando sobre abrir os horizontes da consciência para aquilo que ainda não nos permitimos enxergar. Geralmente não gostamos de descobrir que algo em que acreditávamos não era tão indiscutível quanto achávamos. Daí as famosas brigas sobre política, religião e futebol. Aliás, essas coisas não se discutem. Será mesmo? A questão é que todos nós adoramos ter razão. E defendemos o nosso ponto de vista de forma a não mostrarmos para nós mesmos as nossas limitações. E há um fator agravante. E esse você precisa conhecer.

               Chama-se viés de confirmação. Basicamente ele está relacionado a um fator natural, humano, que nos faz fortemente querer consumir e acreditar em conteúdo que esteja relacionado com as ideias que já temos concebidas em nós. Ou seja, sempre tenderemos a escolher algo que confirme nossas crenças e gostos. Isso vale para as pessoas que escolhemos para ter ao nosso redor. Vale para o lazer, culinária, livros, jornais, etc. Logo, mesmo que o antagônico seja mais plausível, temos dificuldade em aceitá-lo. Assim, acabamos por rejeitar pontos de vista valorosos. No fim, isolamo-nos em um conceito curto e incompleto sobre o mundo.

               Outro problema é que isso acaba por nos colocar em uma bolha social. Com isso, temos nosso poder de percepção atrofiado. O alcance de nossa razão fica empobrecido. Somos feitos escravos da tolice. Para complicar, há uma realidade contemporânea que corrobora com esse viés: os algoritmos. Devido às facilidades proporcionadas pela tecnologia, hoje as mídias digitais e as redes sociais são uma realidade impossível de parar ou menosprezar. Grande parte delas utiliza esse recurso, os algoritmos, como forma de analisar os seus hábitos de consumo, preferências, e outras informações catalogadas durante sua navegação na rede. Em posse disso, o algoritmo direciona prioritariamente para seu consumo o conteúdo relacionado com suas preferências. Sim, é um procedimento tendencioso. Sim, é feito para saciar seu viés de confirmação. E, sim, isso amplia a sua bolha.

              Não há muito o que fazer para mudar esse mecanismo. São negócios. Por outro lado, as redes sociais têm, sim, sua relevância e benefícios. Mas saber dessa situação já te ajuda a se esforçar a procurar novos conteúdos que possibilitem ampliar sua mente. Consumir o mesmo conteúdo, conversar com as mesmas pessoas, ler os mesmos livros, tudo isso pode fazer com que você pareça uma pessoa mais inteligente. Mas é justamente o contrário. Asseguro-te que é apenas o seu cérebro confortando o seu ego. Mas não o culpe precipitadamente. Ele está apenas poupando energia. Também está evitando fatigar-se com reflexões incômodas. Pensar cansa. E muitas vezes constrange. Mas liberta. Busque informações de outras fontes, inclusive opostas às suas, para ampliar seu ponto de vista, ou mudar conceitos ultrapassados e errôneos. Afinal, reposicionar-se é melhor que permanecer na tolice. Todo novo conhecimento adquirido é uma excelente oportunidade para melhorar sua qualidade de vida.

               Então, permita-se estar errado, e melhore. Também, não caia na bobagem de rotular pessoas como inimigas apenas porque elas pensam diferente. Nem se engane ao achar que suas certezas religiosas, políticas e sociais estão livres de falhas ou atualizações. Dê oportunidade aos outros para que eles apresentem seus argumentos. Dê abertura a você mesmo de modo a permitir uma conversa autêntica com sua consciência. Ela quer te ouvir. E te aconselhar. Ela quer te mostrar que você está em uma bolha. E as bolhas também afundam. Fure-a com a agulha da erudição. Proclame a alforria de seus pensamentos. Liberte-se. Eu sei que, por essa lógica, em breve, você estará em outra bolha. Mas a próxima bolha pode ser menos sufocante e trará mais oxigênio ao seu espírito. De bolha em bolha, não haverá algoritmo para restringir seu viés de confirmação.

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