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Oxum é a divindade do amor, que nomeia uma das qualidades divinas. É a orixá da água doce, dos rios, do princípio da vida, a origem, a concepção. A nossa concepção. Quando buscamos na Bíblia a origem, o nosso início, temos que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. (Gênesis 1:26-28). Então, somos um reflexo de Deus?

E, se Oxum é uma representação de Deus e ela irradia a energia do amor, logo, Deus é amor…E nós, que fomos criados à semelhança Dele, somos o amor? Falamos dos orixás de uma forma tão distante, tão externa. Esquecemo-nos de que Deus habita em nós e de que as qualidades que cultuamos como orixás são energias que também existem dentro de nossa alma.

Deus é o princípio de tudo e Nele tudo tem começo e fim; sendo assim, todos estamos presentes em Deus e Ele está em nós. Logo, tudo vai depender do conceito que tenho de Deus. Se, para mim, Ele é um pai punitivo e que castiga, então, no meu íntimo, vou acreditar que é assim que o universo funciona e, talvez, seja assim que eu me relacione com o mundo: através de punições e castigos, seja a mim mesmo e/ou com os que me cercam.

Por outro lado, se eu penso que Deus é AMOR, logo, Ele aceita e compreende minha essência, então, essa é a crença que carrego em mim e esses serão os sentimentos com os quais vou relacionar-me com o externo: amando, acolhendo, compreendendo.

Dizer que somos o reflexo do Onipresente dá-nos a liberdade de sermos únicos, afinal, cada um tem a sua concepção do que e quem Ele é. Cada um tem a própria visão sobre o que rege o universo: um Pai severo e punitivo ou uma energia que age em perfeita harmonia, baseada no amor. Deus, em sua infinita perfeição, aceita o que chamamos de caos, pois sabe que dali nascem os mais belos espetáculos que revigoram a natureza.

O que para nós é o caos, para Ele é uma bela oportunidade de renascimento da natureza. Quem sabe também possamos olhar para as nossas dificuldades assim? Não como problemas, mas sim como um efeito natural que nos permite um recomeço, uma nova concepção, um início.

Por que é tão difícil abraçarmos as nossas sombras, as nossas limitações, medos? Se o Pai Todo Poderoso acolhe-nos como somos, que tal clamarmos por Oxum para que ela traga, à superfície do nosso consciente, o amor próprio?

Na nossa jornada, achamo-nos capazes de apontar o dedo para aqueles que estão ao nosso lado e nos intitulamos juízes, julgando a forma como os outros encaram o mundo e como vivem. E, dentro da nossa visão distorcida da Divindade, esquecemos de olhar para dentro de nós e entender como Deus se manifesta n’alma. E entramos numa competição ilusória com os que deveriam ser nossos amigos de caminhada.

“Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo que eu?” No conto de fadas, o espelho mostra, para a rainha má, uma princesa que era mais bela que ela, não pela beleza física que ela tinha, mas sim pelo coração. Um coração dócil, amável, puro.

Quantas vezes nos olhamos no espelho e desejamos ver refletida outra imagem, que não a nossa? Ou, enxergamos uma imagem que sonhamos ser, mas que não nos reflete verdadeiramente?

Ah, Mamãe Oxum, que seu espelho seja o reflexo de nossas almas. Que possamos nos admirar com o seu olhar de mãe, enxergando os defeitos e, também, engrandecendo as qualidades. Que nos olhemos com amor para enxergarmos nosso espírito errante e enaltecermos os orixás que habitam em nós. Que o nosso ego seja guiado pelo amor.

Deus não pede nossa perfeição, mas sim nosso melhor a cada dia. Os orixás são descritos também quando a energia está desequilibrada, afinal, o universo, para estar em equilíbrio, ora oscila para mais, ora para menos, mantendo um movimento constante e perfeito.

Sempre que nos afastamos da nossa semelhança com o Onipresente, nosso íntimo sinaliza através da ansiedade, medo, raiva, inquietação… Sentimentos que nos mostram que, de alguma forma, estamos distantes de quem realmente somos.

Que tal, nesses momentos, nos olharmos num espelho e deixarmos nosso eu de verdade vir à tona? Podemos ver o espelho como o símbolo da consciência: vemos o nosso reflexo, mas ele não é só físico. Vemos nossos olhos refletirem nossa alma, então, por que não nos olharmos com amor? Com aceitação? Como um pai olha para um filho ou como uma mãe olha para um filho.

 

“Tu não és o reflexo, mas o reflexo é tu1”.


1 Autoria desconhecida.