"MULHERES NA CURIMBA: PODE?"

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“Curimba é acolhimento, é compaixão e colo, é o coração da gira”. Esse é o relato de uma curimbeira do ACVE, que não quis se identificar. Acolher, acalmar e alimentar. Tais verbos estão profundamente presentes na essência feminina e nas características da maternidade. Não por acaso, também são capazes de descrever alguns dos fundamentos e características de uma Curimba.

Ampliando esse ponto de vista, também podemos relacionar a música a esses verbos. Nada melhor que ter um substantivo feminino para classificá-la! Assim, surge a indagação: e mulheres na Curimba, pode? Para responder a essa pergunta, precisamos conhecer um pouco mais sobre a Umbanda e compreender alguns fundamentos originários das religiões de matriz africana. No entanto, de onde vêm essas ideias e dogmas que dão origem a essa pergunta?

Atualmente, as mulheres estão redescobrindo o seu poder, ocupando seu lugar na sociedade e demonstrando que são capazes e eficientes tanto quanto os homens. Porém, quando o assunto é religião, cada uma possui o seu fundamento e, em muitas delas, a mulher é impedida de realizar certas funções ou rituais. Não cabe a nós julgarmos esses conceitos. Pelo contrário, devemos sempre pregar a união e o respeito entre as religiões.

No candomblé, acredita-se que a mulher não pode ser ogã e não deve tocar atabaque. Entendem que a energia masculina é a mais apropriada para a invocação dos orixás e entidades, utilizando uma justificativa essencialmente energética. Outro argumento comum diz respeito à oscilação emocional que a mulher passa durante seu ciclo menstrual. Eles acreditam que tal desequilíbrio afeta e influencia a energia do toque no atabaque, do instrumento em si e da corrente mediúnica. Talvez, por esses e outros aspectos, tais questionamentos sejam feitos às casas que possuem ogãs mulheres. Contudo, devemos lembrar que existem diferenças nos fundamentos e rituais praticados entre as religiões de matriz africana.  

A Umbanda acredita que todo médium está sujeito a baixar sua vibração energética e/ou emocional de acordo com suas ações e pensamentos, independentemente do gênero, raça, idade ou cor. Em nosso contexto, a Curimba é capaz de favorecer o reequilíbrio energético, pois é um polo de irradiação energética, que potencializa as vibrações, dissolve energias negativas, dilui miasmas espirituais (vibração negativa que causa transtornos espirituais e mentais) e limpa a atmosfera, criando um ambiente ideal para o trabalho mediúnico. É através do toque do curimbeiro ou curimbeira, que toda essa magia acontece e o ritmo, o som e a vibração geram alegria e amor, energias estas que são capazes de eliminar qualquer influência negativa.

Para muitos, estar na Curimba representa, antes de tudo, uma oportunidade de vivenciar o valor da música como forma de praticar o bem, a caridade. Representa um ambiente onde a importância e o poder da música sempre são ressaltados, a amizade tem seu lugar e relembra que Umbanda é união e Curimba, conexão com os ancestrais. Certa vez, ao escutar confidências de uma irmã curimbeira, ela me disse: “Como doar amor quando se está fechada? Não dá. A Curimba me ajudou a reconectar com esse amor, de forma leve e pura.”

Ao serem questionadas sobre o que é ser mulher na Curimba, algumas curimbeiras responderam:

“Estar na Curimba me trouxe um sentimento de libertação, poder "soltar" o que me faz mal, seja através da voz ou do batuque dos instrumentos e poder receber de volta a energia equilibrada. Transmutação pura!”

Médium Juliana Abdala

 

“Vejo como até mesmo um equilíbrio no trabalho, tendo ali a força feminina e a masculina trabalhando juntas. Sei que, para muitas ali, é meio complicado ter força para tocar o atabaque, por exemplo, mas hoje vejo que, dentro da Curimba, estamos bem igualitários, não existindo ninguém melhor do que ninguém ou essa diferença entre ser homem ou ser mulher.”

Médium Ana Luiza Azarías

 

“Confesso que não tinha parado para pensar muito sobre isso, mas percebi que a musicalidade tem uma relação muito próxima com a energia feminina como, por exemplo, o envolvimento com uma certa fluidez (ritmo/sonoridade) e um certo cuidado na construção de sentidos (letra). Percebo a Curimba como um lugar de diversidade, de inclusão. Sou feliz e grata por isso. Então, para mim, como mulher, estar na Curimba significa desenvolver vários potenciais, dos técnicos musicais aos mais abstratos, como intuição, capacidade de entregar-se para o trabalho,  a própria espiritualidade.

Médium Karina Fernandes

 

Respondendo à pergunta inicial: Não só pode, como tem fundamento a mulher na Curimba!

Para finalizar e descrever o meu desafio de resumir a mulher curimbeira, deixo alguns versos da música “Mulher”, de Elba Ramalho:   

 

Quem vê por fora, não vai ver
Por dentro o que ela é
É um risco tentar resumir
Mulher...

.....

E sempre faz o que bem quer
Ninguém pode impedir
E assim começa a definir
Mulher...
Mulher...
Entre tudo o que existe é principal
Pra você gerar a vida é natural
Esse é o mundo da mulher...”

 

Médium Natasha Cyrino,

 

Inspirada pelas curimbeiras do ACVE.