"QUEM MANDA NAS MATAS É OXÓSSI..."

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Muitas coisas são divulgadas sobre os orixás. Muitos sensos comuns quanto a pontos de forças. Algumas divergências. Coisas normais para nós encarnados que não possuímos meios e nem evolução para compreendermos a vibração e a energia de um orixá. Os “braços divinos” tomam formas de acordo com a visão de cada filho de fé. Cada um acredita, visualiza e venera Deus e os orixás da sua forma. Sincretizados ou não com os santos, os orixás fortalecem e alimentam diversas falanges que, por meio da egrégora formada, atuam em sua vibração, guiando, orientado, educando, auxiliando... e vários outros “ando” que todos precisamos.

Não é diferente com Oxóssi. Muitos já sabem seu ponto de força: “Quem manda nas matas é Oxóssi...”. A sua cor, verde, e seu dia, quinta-feira, são quase unanimidades para os umbandistas e para aqueles que o cultuam e alimentam a crença nele. Ele atua diretamente na busca pelo conhecimento, por meio do aprendizado e ao exercer os ensinamentos, chega-se à sabedoria. Rege a disciplina necessária para buscar o desejado e cobra a disciplina na busca pela reforma íntima: com o crescimento espiritual. Aquele que busca se analisar e se conhecer adquire a sabedoria de poder caminhar com mais firmeza em sua evolução. É também regente da linhagem dos Caboclos, que trabalham nas diversas linhas dos outros orixás, mas que trazem consigo a figura indígena que remete àqueles que viveram e muito aprenderam nas matas.

É nas matas que percebemos um dos ensinamentos sobre os orixás: eles não atuam sozinhos. Numa mata há diversos elementos que nos remetem aos outros orixás: os rios de Oxum; o vento de Iansã; as pedras de Xangô; as ervas de Ossain; os caminhos de Ogum; a lama de Nanã.

É nas matas que lembramos a origem de nosso planeta e que, não por acaso, está muito ligada à história e à colonização do Brasil. Os indígenas foram os primeiros habitantes de nosso país e muito sofreram com a colonização europeia. Seu culto a Tupã, como Deus, que está presente em tudo, nos ensinou a ter o respeito e o cuidado com o local onde vivemos. Oxóssi estabelece e fortifica a Umbanda como religião ecológica que preserva e valoriza os pontos de força da natureza.

Não é à toa que Oxóssi rege as matas, pois, para sobreviver nela, é preciso conhecê-la. Ter orientação para caminhadas, saber analisar os riscos, de onde tirar o alimento por meio da colheita ou da caça e, até mesmo, de que forma conseguir água, caso não exista rio por perto. Saber analisar o melhor lugar para acampar e por onde caminhar. Ouvir o silêncio, que fala mais do que qualquer barulho. Abrir caminhos que ainda não estão trilhados na mata só é possível para aqueles que as compreendem, que as sentem, que as respeitam, que entendem que ela se renova e vive conforme a influência daqueles que ali habitam.

Energeticamente, Oxóssi traz a vibração das matas para aqueles que necessitam. Ele auxilia na busca e na disseminação do conhecimento. É o orixá da fartura: por meio do plantio, do cultivo, chega-se à colheita. Oxóssi traz a força do caçador certeiro: de uma flecha só. Este domina seu instrumento e sabe precisamente como usá-lo. Traz a disciplina para conquistar o conhecimento que o levará ao objetivo. É também a palavra sincera e renovadora, baseada nos ensinamentos aprendidos, que acalenta e renova os bons sentimentos dentro dos corações desvirtuados.

Por estar ligado às matas, muito se fala sobre as ervas e também sobre a capacidade de cura de Oxóssi. Em nossa casa, cultuamos também Ossain, orixá regente das ervas, do prana das plantas que, manipulado, produz efeitos físicos e espirituais corretivos e que auxiliam na caminhada neste planeta. Essas ervas normalmente são encontradas nas matas e florestas, pontos de força de Oxóssi. Mas sua atuação de tratamento e cura não se resume apenas a fornecer plantas medicinais.

Cada orixá possui sua forma específica de atuação espiritual. Todos são capazes de realizar tratamentos e produzir curas, variando conforme a necessidade do doente. Não diferente é Oxóssi, que tem como principal forma de tratamento a cura por meio do aprendizado. Os espíritos adoecidos refletem em seu corpo físico-espiritual as mazelas guardadas durante suas diversas encarnações. Erros, decepções, desalentos, entre tantos outros sentimentos impressos e escondidos sob o véu da encarnação despontam no corpo físico para expurgar e ensinar aqueles que o possuem, de forma a desfazer as amarras do passado e permitir a caminhada evolutiva.

Talvez a forma de Oxóssi impulsionar a correção dos problemas espirituais seja a mais complexa para muitos. As máscaras, as fugas, o esconder ou renegar os problemas interiores são empecilhos para o autoconhecimento. Para a plenitude espiritual, é necessário se estudar, buscar confrontar sentimentos e refletir sobre si de forma experimental, utilizando os ensinamentos adquiridos e práticas renovadoras, para que a correção (ou cura) das mazelas seja produzida de dentro para fora, tornando o tratamento físico o estágio final de correção de algo já reparado.

Em Oxóssi a cura é a colheita de um tratamento feito por meio do plantio e do cultivo de bons ensinamentos. Amar-se, compreender-se, aceitar-se, buscar práticas e orientações edificantes, como os ensinamentos de Cristo, são algumas das sementes que Oxóssi busca plantar em cada descampado que necessita ser reflorestado. Internalizar esses conhecimentos e lutar para executá-los, pouco a pouco, em cada vida. Cada passo e cada atitude baseados nas sementes plantadas farão crescer uma grande floresta em cada espírito que se dispuser a persistir. E a cura toma a forma de uma linda floresta semeada nos corações mais desgastados e atormentados e que são renovados, e pulsam, e crescem com as novas sementes que continuam a ser plantadas pelo ciclo natural das plantas que ali estão firmes.

 

 

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