UM APELO AO AMOR

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Há certo tempo, um espírito guardião da nossa casa me sugeriu um tema de texto para esse jornal, que explicasse que o ACVE sempre acolheria todos aqueles irmãos aflitos que estivessem em busca de ajuda. Disse que muitos deles estariam em desespero pois já tinham pedido socorro a padres, pastores e dirigentes de centros espíritas e o lenitivo recebido não havia sido suficiente para solucionar seus problemas. Ou seja, depositavam a última esperança na Umbanda.

Ele ajudou a gerar o pensamento de que poderíamos ter entre nós homicidas, traficantes, exploradores sexuais, criminosos em geral. Como receberíamos essas pessoas? Faríamos um julgamento prévio com base na moral ou na ética, de acordo com o que nós achamos correto? De acordo com a nossa verdade? Ou não julgaríamos e levaríamos em conta a Verdade do Cristo, aquele que colocou o amor acima de todas as coisas?

Entendo que essa reflexão está diretamente associada à verdadeira caridade. Ao fundar a Umbanda, em 1908, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, incorporado em seu médium Zélio de Moraes, trouxe o conceito da nova religião: “é a manifestação do espírito para a prática da caridade”. E ele também disse que, nessa nova religião, todos seriam acolhidos porque essa é a vontade do Pai[i].

A partir disso, acho importante ponderar sobre qual foi o tipo de caridade proposto por Sete Encruzilhas, que explicou:

“A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e, como mestre supremo, Cristo"[ii].

Acredito que o Caboclo tenha se referido ao mesmo tipo de caridade proposto por Jesus, aquela no sentido do amor ágape, e não a que foi desvirtuada com o passar do tempo. Quem faz caridade não espera nada em troca e provoca uma mudança real e positiva na vida do indivíduo.

Zélio de Moraes, por exemplo, não se contentou em oferecer comida a um morador de rua que bateu à sua casa com fome, pois ele sabia que matar a fome naquele momento não solucionaria o problema daquele irmão. Ele ofereceu um quarto em sua casa e deu todos os meios para, de fato, ajudá-lo[iii].

Divaldo Franco, na Mansão do Caminho[iv], ajuda diariamente cerca de seis mil pessoas e abriga mais de três mil, centenas delas tendo sido registradas como filhas do médium[v].

Logicamente, a proposta reencarnatória desses irmãos pode ter sido bem diferente da minha ou da sua, leitor. Mas serve de exemplo para todos nós sobre o que é, de fato, fazer caridade. Ensina que é impossível desassociar caridade de amor. E o amor, graças a Deus, é o futuro que todos nós estamos fadados a viver.

Ir às giras e incorporar espíritos que passam mensagens edificantes é caridade para conosco. Não podemos nos iludir achando que, assim, estamos ajudando o próximo. Nós somos meros coadjuvantes. Quem faz a caridade ao próximo, nesse caso, são os guias. Estes, sim, são impulsionados pela caridade que ainda não internalizamos, pois vêm nos ajudar movidos, única e exclusivamente, pelo amor. Não é por interesse em evoluir, queimar karma, nem de receber reconhecimento, posto que nem utilizam seus nomes de quando encarnados. Aqui, são apenas Vovôs Beneditos, Caboclos Arranca Toco, Mariazinhas, Zés do Laço, etc.

Então, voltando à questão inicial, o que estamos fazendo no terreiro de umbanda? Com que direito nos posicionamos como julgadores de pessoas das quais nem conhecemos a história, as dores e dificuldades? E, mais sério do que isso, estamos sendo movidos por que tipo de sentimento, ao querer que essas pessoas não partilhem do nosso convívio no ambiente religioso, como se fossem uma praga que poderia nos contaminar? Isso pode ser tudo. Menos caridade.

Não estamos aqui para julgar, mas para trabalhar para Jesus, atendendo a todos aqueles que precisarem. Enquanto isso, vamos amadurecendo juntos. Não somos perfeitos, mas somos perfectíveis. Temos a centelha divina dentro de nós. Se “eu e Deus somos um”, então temos o amor divino em nós e podemos multiplicar esse sentimento ao compartilhá-lo, cada um a seu tempo, sem pressão. Mas nunca inertes, pois não basta não fazer o mal; é preciso fazer o bem.

A umbanda, como tudo na vida, precisa de entrega real e comprometida. Temos que nos envolver de coração. Misturarmo-nos. Movimentar. Unir! Fazer diferença na nossa vida e na dos irmãos que estão ali, movidos pelo mesmo sentimento: amor fraterno. Assim, vamos atingindo, de pouquinho em pouquinho, a nossa evolução e a do planeta em que vivemos.

 

 



[iii] Cumino, A.; Queiroz, Rodrigo. Caridade: Amor e perversão: São Paulo: Editora Madras, 2002

[iv] A Mansão do Caminho é a obra social do Centro Espírita Caminho da Redenção, situada em Salvador, no estado da Bahia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mansão_do_Caminho.