Terça, 26 Setembro 2017 15:55

A LINHA DE CIGANOS NA UMBANDA

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A linha auxiliar de ciganos na umbanda geralmente é associada, por médiuns e consulentes, à oportunidade de pedir por relacionamentos amorosos, dinheiro e emprego. É errado pedir auxílio para encontrar um parceiro ou parceira, para conseguir um emprego melhor ou melhorar o que já tem, para ter mais prosperidade no campo financeiro? Não. Mas não acredite em ganhos sem merecimento. Uma das leis que regem a vida é a de ação e reação. Recebemos à medida que semeamos. Não se colhe o que não foi plantado e devidamente cultivado.

Sob essa perspectiva, o povo cigano ajuda, sim, na busca de melhorias relacionadas à vida material, mas não entrega as situações prontas e embaladas para presente. Explicando de uma forma bem simples e objetiva, os ciganos nos encaminham na direção do que é preciso fazer, realizar, conquistar, para que nos tornemos merecedores da concretização do pedido feito.

Os espíritos que trabalham nessa linha prezam pela seriedade, disciplina e retidão. O auxílio que nos concedem é sempre no sentido de nos orientar, para que olhemos para nós com sinceridade, façamos uma autoanálise e caminhemos na direção de nossos objetivos, mais íntegros e seguros do nosso valor e dos nossos talentos.

Muitas vezes, chegaremos a um atendimento cigano com muitos pedidos e sairemos com orientações diversas que nos encaminharão para o movimento de autoconhecimento e reformulação de atitudes e posicionamentos perante as situações da vida.

No atendimento com ciganos, num jogo de baralho ou na leitura das mãos, as pessoas costumam perguntar o que o futuro reserva e, se não estiverem abertas para receberem o atendimento que a entidade cigana oferecer, sairão decepcionadas e não captarão as informações para realizar a reflexão que se fizer necessária no momento.

As falas das entidades ciganas são cheias de sabedoria e beleza, quase poéticas muitas vezes, trazendo sempre mensagens que mexem profundamente conosco, fazem uma reviravolta dentro de nós, nos tiram da zona de conforto, nos fazem enxergar que as causas de todas as questões que surgem em nossa vida estão dentro de nós, nos tiram da posição de vítimas e da condição de impotentes, nos mostrando que, dentro de nós, temos a chave, a solução, para o problema que atribuímos a uma relação, a uma pessoa, a uma situação. Porém, para alcançar essa chave, é necessário travar uma dura batalha interna, ressignificando sentimentos, reconhecendo falhas e aceitando o desafio de revisar a nossa forma de ser e estar no mundo.

As entidades ciganas são geralmente associadas ao misticismo, a uma forma mágica de lidar com as situações e compreender a vida. De fato, há bastante misticismo e magia na fala dessas entidades, que sempre nos alertam para a necessidade de vivermos conectados, de percebermos as mensagens que a vida nos transmite por meio dos acontecimentos e das situações com as quais nos deparamos. Esse modo de viver vai muito além de mera superstição. É profundo conhecimento e conexão com as forças que regem o universo. É um convite para que desenvolvamos a intuição.

No entanto, quando se fala em intuição e se estabelece a relação com o povo cigano, imediatamente, muitos pensam logo em adivinhação. Podemos perceber isso claramente na fala de muitos consulentes e até mesmo de médiuns da corrente. É muito comum a solicitação de adivinhações do futuro às entidades que usam o baralho cigano como instrumento de trabalho.

Contudo, intuição não é adivinhar o futuro. É o desenvolvimento de uma percepção mais ampla e aguçada da energia que cada pessoa, lugar ou situação carrega. É a crescente conexão do ser consigo mesmo e com os mistérios e forças que regem a vida. É fé.

O baralho cigano, nessa perspectiva, funciona como instrumento de trabalho magístico por meio do qual se faz uma leitura do consulente e das situações que ele traz, sempre com o objetivo de proporcionar as reflexões necessárias acerca das questões levantadas. O baralho, bem como outros oráculos utilizados pelos ciganos, funcionam, portanto, como canais de auxílio ao trabalho de autoconhecimento. Como costumam dizer em seus atendimentos: “o baralho vai conversar com você, transmito apenas o recado”.

As entidades ciganas emanam um magnetismo muito forte e envolvente, trabalham intensamente com a energia telúrica, ou seja, ligada à terra, uma energia que atinge quem está encarnado de forma mais forte do que uma energia mais sutil atingiria. Por ter características mais próximas da matéria, a energia cigana aguça mais os sentidos do encarnado.

A energia telúrica está diretamente relacionada ao chakra básico. Este chacra representa a ligação do ser humano com o planeta Terra, com o mundo material. É geralmente associado aos recursos econômicos, à capacidade de lidar com dinheiro, à nossa independência em relação às outras pessoas, ao sentido de rumo e orientação na vida, entre outros fatores. Ele também regula a nossa capacidade de lutar pela realização dos nossos ideais.

Essa energia telúrica, então, por ser mais próxima da material e estar diretamente relacionada ao chakra básico, que nos mantém encarnados, aguça mais os sentidos perceptíveis pelo corpo material. Daí o cuidado enorme que se deve ter ao trabalhar mediunicamente, de forma geral, e aqui falamos especificamente das entidades ciganas.

A mesma energia que nos mantém encarnados é a que chamos de energia criativa. Ela pode criar cura, arte, produção intelectual ou, desvirtuada, pode ser utilizada para envolver pessoas com finalidades não adequadas, gerando desequilíbrios principalmente relacionada à sexualidade.

Em razão de a energia transmitida por essas entidades ser percebida de forma tão forte pelos encarnados, não é raro ouvir alguém dizer que há forte sensualismo em suas manifestações. Com relação a esse aspecto, é muito importante ressaltar que o trabalho com entidades da linha dos ciganos deve ser feito por médiuns que possuem a disciplina, o estudo e o equilíbrio adequados para lidar com esse forte magnetismo, cujo objetivo é conceder vitalidade e equilíbrio físico e espiritual para o consulente e para o próprio médium que, funcionando como canal transmissor, é enormemente beneficiado.

O trabalho das entidades ciganas é sempre realizado de forma alegre, e um dos grandes ensinamentos que esses espíritos nos transmitem é o de que a escolha da forma como vamos encarar a vida é nossa. Podemos encarar cada obstáculo como um impedimento ou como um desafio para desenvolvermos novas capacidades.

Mostram uma visão bem realista e direta da vida: no nosso estado evolutivo, haverá sempre altos e baixos. Portanto, devemos sempre dançar e celebrar a vida: nos momentos difíceis, para ganharmos a força e a coragem para seguir; nos momentos de felicidade, para comemorarmos as conquistas alcançadas. E, para todos os momentos, a GRATIDÃO.

A partir dessa lógica, as entidades ciganas atuam sempre de forma a nos conduzirem ao equilíbrio da mente, do corpo e do espírito, tratando o nosso campo mental e nos orientando e encaminhando no sentido de aprendermos a fluir com a vida, a receber com gratidão o que ela nos oferece e, sobretudo, a manifestar essa gratidão, oferecendo ao mundo o melhor que nossas potencialidades já desenvolvidas podem oferecer, seja em forma de oferta e doação de bens materiais ou imateriais, como o conhecimento.

Nesse fluxo constante de doar e receber, agradecer e confiar, seguindo o fluxo da vida com fé e confiança, reside o conceito de prosperidade para os ciganos. Prosperidade, para eles, é resultado de profunda confiança na vida e na própria capacidade de doar.

Os ciganos nos fazem o convite de aceitarmos os desafios que a vida nos apresenta e nos garantem o auxílio e a proteção, permanecendo conosco, enquanto estivermos comprometidos e disciplinados, caminhando pelas vias da justiça e do amor. Naturalmente se afastam, e deixam isso bem claro, quando insistimos em condutas inadequadas.



 

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