Avalie este item
(1 Votar)

Há algumas giras, perguntei a Pai Leopold: “Meu pai, o senhor poderia me falar um pouco sobre quando estava encarnado?” e ele me respondeu: “Para que, minha filha? Se, assim como você, também tenho algumas coisas que não me orgulho de lembrar. Já superei esse passado, e revivê-lo não vai me trazer benefícios, pois já aprendi as lições que precisava”.

Essa é uma das características do trabalho do nosso dirigente espiritual: cultuar o presente! Quem já sentou no banquinho em frente a ele para se consultar deve ter ouvido alguma dessas frases: “Você é museu para viver de passado?”, “Você pode mudar seu passado? e seu futuro?, Então, viva o hoje!”, ou “Por que o dia de hoje se chama presente?”. Entre todas as frases, a que ele tem uma afinidade especial é a de Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.

E o que isso desperta em nós? Bom, posso falar por mim. Todas as vezes que o ouço transmitir esses ensinamentos, penso em como estamos arraigados no ontem. No que fomos, nos erros pretéritos. E, dessa forma, deixamos de viver o hoje. Perdemos a oportunidade de limparmos a poeira da alma, assumindo que somos imperfeitos, e, mais do que isso, que, como filhos de Deus, somos capazes de fazer melhor que ontem.

Muitas vezes nos sentimos melindrados. Achando que ele não nos ouviu, ou não deu a devida atenção quando não nos deixa falar todo o problema que tanto nos atormenta. E é nessa hora que, com o cachimbo, Pai Leopold cria a fumaça necessária para, paradoxalmente, desanuviar o nosso mental e benzer uma água que nos é dada como um remédio para a tristeza da alma.

Assim, vemos que cada preto-velho tem sua forma de atuação, sua linha de trabalho. O importante é que, independente de qual linha seja, o objetivo é o mesmo: mostrar que somos passíveis de errar, e que isso não exclui nossas qualidades; que sempre há um amanhã para trilharmos novos caminhos.

Quantas vezes vi Pai Leopold rezando para e também junto com o consulente, buscando a fé em Deus e mostrando que nunca estamos sozinhos. As inúmeras velas que ele nos recomenda acender, nos mostrando que a força para alcançarmos o que queremos está mais perto do que imaginamos: dentro de nós mesmos.

Enfim, retomando a tentativa de entrevista com ele, insisti e disse: “Mas, Pai Leopold, 13 de maio é o dia que comemoramos o axé dos Pretos-velhos. Gostaríamos de falar do senhor” e, depois de coçar a cabeça, ele me respondeu:

Filha, minha vida não foi interessante. Vivi na Alemanha, na época da 2ª grande Guerra Mundial, onde muitos que estão aqui neste terreiro também viveram. Tive o hospital de campanha em que eu trabalhava bombardeado três vezes, sendo as duas primeiras apenas avisos, porque me recusei a cumprir as ordens dos meus superiores, atendendo qualquer ferido que lá chegava, sendo alemão ou não. Não concordava com o que faziam lá e não queria compactuar com eles. O derradeiro foi o que matou todos os presentes, trabalhadores e presos de guerra que lá eram atendidos. Hoje, estamos reunidos neste terreiro, cada um em sua escala evolutiva e com um papel diferente, para, então, resgatarmos débitos daquela época e também de outras.

Mas, se me permite, prefiro mencionar que antes disso, vivi no Brasil, que foi e ainda é minha pátria amada. Lugar onde aprendi muito sobre a terra, as plantas, as pessoas, os sentimentos, as mandigas, a cura, a magia. Essa encarnação despertou meu espirito para muitas verdades. Após meu desencarne como alemão, me foi dada a missão de estar à frente desse terreiro de umbanda. E fiz minha preparação no mundo espiritual com vários mentores.

Conheci o Evangelho. E, sempre que me for dada a oportunidade, trarei a palavra de Jesus para apaziguar as dores daqueles que chegam em nossa casa. Se quer que eu deixe uma mensagem, diga para que meus filhos nunca percam a fé. Que se vacilarem, busquem nesse livro o acalento para suas dores. Pois o Pai nunca dá pedra ao filho que pede pão. Estarei à frente dessa Casa até quando me for permitido estar.

Emocionada, agradeci a ele, dizendo-lhe que foi muito especial poder conhecer um pouco mais daquele que nos cuida com tanto zelo e ardor. Sendo assim, peço licença, e em nome de todos nós da corrente, para agradecer a todos aqueles espíritos que se propuseram, na roupagem de pretos-velhos, a nos abençoarem com suas rezas, suas conversas e conselhos, seus benzimentos, seus abraços, palavras de carinho, ouvidos amigos, cachimbos, cafés, ervas e mandingas. Dividindo conosco as experiências que viveram e nos mostrando que também podemos ser pessoas melhores e que as graças de Deus são para todos aqueles que estiverem abertos para receberem. Adorei as almas!