COMUNICAÇÕES MEDIÚNICAS NA UMBANDA SAGRADA

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“A umbanda é a comunicação dos espíritos para a prática da caridade”, Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Por definição, a comunicação entre homens e espíritos e a caridade são objetos intrínsecos e complementares. São as duas asas para o umbandista que pretende alçar voo rumo à evolução espiritual. Todavia, precisamos adicionar o estudo sério e continuado para obtermos as estruturas dos pássaros. A prática aliada ao conhecimento gera a sabedoria.

Tudo isso pode ser obtido no nosso terreiro: estudo sério, comunicações mediúnicas com Pretos-velhos, Exus, Caboclos, Baianos, Boiadeiros, Crianças, Ciganos, e o exercício da caridade.

Mesmo assim, alguns médiuns de incorporação se sentem inibidos, principalmente quando iniciam na corrente ou quando não sabem como lidar com a mediunidade de incorporação durante os instantes iniciais da gira, nos quais é efetuada a reativação das energias nas firmezas das Entidades e dos Orixás.

Essas dificuldades que alguns encontram em lidar com suas sensibilidades nesses momentos têm chamado atenção de Pai Leopold, Sr. Mangueira e Pai Pedro, os quais têm demonstrado grande interesse e certa preocupação. Por isso esses assuntos serão aqui tratados com seriedade e serenidade.

Uma breve observação dos fatos e despretensiosas conversas com alguns médiuns revelaram as principais entropias ocorridas nas comunicações mediúnicas do nosso terreiro: 1. Timidez; 2. Receio do animismo; 3. Medo da mediunidade; 4. Curiosidade; e 5. Não ser médium.

Contudo, apenas conhecer as causas de determinada situação não é suficiente. Precisamos encontrar as soluções para cada uma delas:

1. TIMIDEZ: Ocorre devido a uma preocupação exagerada com a opinião alheia e ao desconforto de ser observado por outros médiuns, tornando-se alvo de críticas e fofocas.  Embora seja um receio natural em todas as pessoas, pode ser superado com ajuda de alguém. Nesse caso, o médium deve buscar a oportunidade adequada e expor a situação para o dirigente espiritual, Pai Leopold, bem como a leitura contínua das obras básicas e de nossa apostila.

2. RECEIO DO ANIMISMO: ânima vem do grego e significa alma, “...é o conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns”, na conceituação do espírito André Luiz. Ao considerarmos que o fenômeno mediúnico é a interação entre a mente encarnada e desencarnada, torna-se muito difícil não existir algum componente psíquico do médium durante o intercâmbio. Até os médiuns mais experientes são tomados por certa preocupação, vez por outra, de estar interferindo no pensamento transmitido pela entidade.

O importante é que o médium mantenha a neutralidade, permitindo que a ideia do guia flua livremente. Por outro lado, devemos fugir do cuidado excessivo com o animismo, porque ele pode tornar-se um empecilho para o fenômeno mediúnico autêntico.

3. MEDO DA MEDIUNIDADE: algumas pessoas receiam serem vítimas de mistificação – obsessores se passando por guias – ou de que o processo mediúnico torne-se prejudicial psicologicamente para o médium, porque alguém falou que a mediunidade provoca loucura ou outros transtornos.  Tanto na questão das mistificações quanto nas consequências negativas da mediunidade, é importante salientar que tais situações, embora passíveis de ocorrer, dependem bastante do ambiente psíquico da gira quando o estudo, a seriedade e a observação não acontecem. Kardec afirma que a seriedade dos espíritos comunicantes depende dos propósitos dos participantes da reunião.

Graças a Deus, no nosso caso, as giras são sérias e os guias e dirigentes encarnados, pessoas responsáveis e competentes.

4. CURIOSIDADE: Quando a pessoa gosta de observar o fenômeno nos outros e esquece-se de si mesmo. O risco é que, quem assim age, quase sempre comenta com outros do terreiro e a coisa toda vira maledicência.

5. NÃO SER MÉDIUM: Ou seja, a pessoa não sente ou não percebe a ação dos espíritos. Nunca é demais lembrar que nem todos possuem a mediunidade tão evidente. Em outros casos, a paranormalidade pode estar temporariamente suspensa e os guias aguardando apenas a disposição de trabalho do médium para reativá-la.  

Em qualquer das situações acima, a apostila do ACVE sugere as seguintes atitudes:

  1. Evite a pressa e persista serenamente nos seus objetivos;

  2. Durante as giras, se entregue confiantemente, sem medo de errar, porque dificilmente alguém deixaria suas obrigações e lazeres para desempenhar um papel de médium como um ator vulgar;

  3. Concentre-se exclusivamente na gira.

Por fim, em qualquer dos casos acima, bem como quando há dúvidas quanto ao nome dos guias e dos Orixás, procure se aconselhar com os mentores da casa – Pai Leopold, Sr. Mangueira, Pai Pedro ou demais Pais de Santo.

Em última instância, converse com o dirigente do setor espiritual onde atua, que certamente o encaminhará para uma das pessoas acima. Evite comentários com médiuns sem a devida autorização para orientá-lo, por maior boa vontade que esta pessoa possa demonstrar, e recorra somente às pessoas credenciadas.

Agindo assim, evitaremos a fofoca no terreiro e os consequentes danos aos nossos trabalhos espirituais, ou simplesmente transcrevendo o pensamento de Emmanuel no Livro Nos Domínios da Mediunidade, de André Luiz: “Sem noção de responsabilidade, sem devoção à prática do bem, sem amor ao estudo e sem esforço perseverante em nosso próprio burilamento moral, é impraticável a peregrinação libertadora para os cimos da vida.”