MEDIUNIDADE EM CRIANÇAS

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Ouvimos, com frequência, histórias de crianças que dizem ter amigos invisíveis. Invisíveis, claro, para as outras pessoas, porque as crianças brincam, conversam, convivem com esses seres que afirmam existirem, mas que apenas elas enxergam. Os adultos, diante dessa situação, costumam não dar credibilidade, acham que é fruto da imaginação infantil, ou se desesperarem, por suspeitarem que a criança possui algum distúrbio psiquiátrico.

Allan Kardec nos traz, em O Livro dos Espíritos, a informação de que as crianças, até por volta dos sete anos de idade, conservam ainda forte ligação com o plano espiritual. Ensina, ainda, que a infância constitui uma fase decisiva para formação do caráter, pois alguns aspectos da natureza e personalidade do espírito reencarnante encontram-se em estado de adormecimento, vindo a manifestarem-se exatamente tais como são a partir da adolescência. Claro que, pelo fato de ser um espírito antigo, a criança traz consigo, ao reencarnar, toda a bagagem adquirida ao longo de seu percurso evolutivo, apesar de o véu do esquecimento ter-lhe apagado as lembranças, os traços de personalidade, as virtudes e as dificuldades morais do espírito se mantêm vivos e podem suas tendências ser observadas a partir de suas atitudes na fase da infância.

Diante desse contexto, sob a ótica espírita, neste caso, também adotada pela Umbanda praticada no terreiro Ação Cristã Vovô Elvírio, podemos entender o relacionamento das crianças com os amigos invisíveis como consequência dessa forte ligação com o plano espiritual, numa fase em que a reencarnação ainda não se completou. Não raras vezes, ao verem fotos de familiares que já desencarnaram, a criança aponta alguém na foto e indica que conhece e brinca com aquela pessoa. É que, nesse início da vida carnal, a criança recebe todo o amparo da espiritualidade, acompanhada de perto por espíritos ligados a ela e à família que veio integrar.

Dessa forma, como o espírito da criança ainda vivencia de forma intensa a ligação com o plano espiritual, é comum o intercâmbio que fazem com o plano espiritual e, para elas, inclusive, essa comunicação acontece de forma muito natural. Também, na maior parte dos casos, esse intercâmbio vai diminuindo com o tempo, até que se extingue com a finalização do processo reencarnatório.

Há casos, porém, em que a criança vê vultos e escuta vozes com frequência, a ponto de causar perturbação. Numa situação como essa, podemos pensar na possibilidade de um quadro obsessivo ou de mediunidade que precisa de equilíbrio. Em qualquer dos casos, o recomendado é que se busque auxílio numa instituição espírita ou espiritualista séria para que a criança e a família recebam as devidas orientações e o tratamento adequado.

Por fim, temos os que em tenra idade já manifestam sinais de possuir pré-disposição a diversos tipos de mediunidade (psicografia, vidência, psicofonia, efeitos físicos) cuja manifestação se apresenta para eles de forma bem natural. Nessa situação, o Livro dos Médiuns nos ensina, ao falar sobre os “inconvenientes e perigos da mediunidade”, que “quando, numa criança, a faculdade se mostra espontânea, é que está na sua natureza e que a sua constituição se presta a isso. O mesmo não acontece quando é provocada e sobre-excitada.”.

No entanto, mais adiante, o mesmo livro traz diversos alertas quanto aos inconvenientes da mediunidade em crianças e jovens. Quando a faculdade se mostra espontânea na criança, mesmo que sua estrutura física já comporte as manifestações mediúnicas e, apesar de algumas crianças já apresentarem certa elevação moral, a prática mediúnica requer constante vigilância, retidão, disciplina, estudo e apurado bom-senso para distinguir, nas comunicações dos espíritos, o que é útil, adequado e instrutivo e o que constitui malfeito de espíritos mal-intencionados ou zombeteiros. A criança, assim, dificilmente terá o devido preparo para lidar com tanta responsabilidade, excetuados apenas casos de grandes missionários como Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco. Muito mais fácil é também que a mediunidade numa criança seja usada indiscriminadamente, como fonte de brincadeiras.

 

O recomendado, em todos os casos, é que a família crie, no lar, ambiente favorável ao desenvolvimento MORAL da criança, com a prática do culto do evangelho no lar, com o exemplo educativo, com a convivência fraterna entre os familiares. Essas atitudes facilitam a atuação dos espíritos protetores e dificultam o acesso dos mal-intencionados.

A frequência em grupos de evangelização infantil é grande aliada na formação moral desses espíritos que estão começando mais um ciclo de aprendizado na Terra, pois o conhecimento que incentiva a elevação moral e a reforma íntima fortalece o espírito contra as investidas do mal e os prepara para enfrentar com alegria, coragem e determinação os desafios que a vida, por vezes, apresenta.

Por fim, é muito importante ressaltar que o posicionamento dos pais, quando suas crianças apresentam sinais de mediunidade, deve ser o de buscar o conhecimento, preocupar-se com a formação moral e com o tratamento adequado (se for o caso), bem como evitar colocar a criança em evidência por conta da faculdade mediúnica, fazendo-a acreditar que é diferente e especial, pois, com isso, incentivam a vaidade desde cedo e podem levar a criança a acreditar-se melhor ou superior que os outros, quando, na verdade, o dom mediúnico, na maior parte dos casos em nosso atual nível evolutivo, se apresenta como valiosa oportunidade para espíritos devedores compensarem os erros do passado, trilhando pelas vias do amor e auxílio ao próximo.

Médium Fernanda Rocha.